sexta-feira, 11 de maio de 2012

REVISTA Z


editorial

Fazer uma revista de poesia é uma viagem ao desconhecido. No entanto, quando a viagem é solidária, todos embarcam acreditando nas estrelas e nos mapas que nos conduzem para a construção da Nau. Zarpamos e, se traçamos algum itinerário, ele é dado pelos ventos e mares que encontramos no caminho. Sabemos que não existe bote salva-vidas, as tempestades são frequentes e bem vindas, a paixão é o estopim de nossos canhões, o número de tripulantes é ilimitado. Todos os poemas estão convidados. O que nos move é o risco, o sabor de navegar.  A efemeridade é a marca desta viagem, sujeita a variações temporais, rupturas e continuidades.

Neste primeiro número da Z, fazemos uma saudação a Manuel da Silva Cerva, que em 1812, nos meses de janeiro e março, em Salvador – Bahia, editou a primeira revista literária brasileira, tendo como título As Variedades ou Ensaios de Literatura. E dedicamos este número ao poeta Samaral, editor da revista Urbana, uma página especial.

Campo de prova para projetos estéticos, experiências sensoriais e tecnológicas, onde inúmeros poetas publicam pela primeira vez suas inserções poéticas, a revista se configura num fenômeno cultural para onde dialogam linguagens visuais e verbais, desde a impressão tipográfica até a revista eletrônica.

 A Z pretende divulgar poetas de todos os estados brasileiros, buscando intercâmbio constante, viagens de pacíficos e atlânticos, poetas de países pertos e distantes. Espaço para poemas, comentários, resenhas, fotos, ilustrações, papos sobre poesia sem fronteiras.

 

 
O poeta Paco Cac pilotou diretamente de Brasília uma nova revista de poesia, chamada
Z
Paco é um agitador cultural e faz revistas desde a década de 70, quando lançou a
Gandaia, que publicou textos de Paulo Leminski, e e cummings, Rubens Figueiredo e
Claufe Rodrigues, entre outros.  Agora ele piplota a Z, que será uma revista quadrimestral.
Neste primeiro número a Z viaja com os seguintes poetas-tripulantes:

Adriana Sacramento, Alexandre Brito, Álvaro Marins, Cesar Cardoso, Devair Fiorotti,
Gilberto Wallace Battilana, Juliana Meira, Karl Gomide, Laís Chaffe, Lau Siqueira, Leo
Almeida, Márcia Freitas, Mário Pirata, Naíma Silva, Paco Cac, Paulo Bruscky, Ricardo
Silvestrin, Ronald Augusto, Rosane Carneiro, Sandra Santos e Simone Alcântara. E um
“Especial Samaral”, em homenagem a este poeta e agitador cultural, grande batalhador
da poesia que nos deixou em março de 1998.

Quem quiser mais informações pode entrar em contato pelo e mail:


  

LANÇAMENTO DA Z NO RIO DE JANEIRO


 
Na noite de quinta feira, 3 de maio, a revista Z foi lançada no simpático sebo e restaurante Al Farabi, na Rua do Rosário, bem no centro do Rio de Janeiro.

O poeta e editor Paco Cac veio de Brasília, onde já fizera o lançamento da publicação, e comandou o novo encontro, com leitura de poemas, por Paco, Cesar Cardoso, Rosane Medeiros e Naíma Silva. 


A confraternização contou com a presença de poetas como Carlito Azevedo, Regina Pouchain e Costa K e também com várias gerações da Faculdade de Letras da UFRJ. Paco e Cesar Cardoso estudaram na instituição em meados dos anos 1970, quando ela ainda funcionava no famoso “Barracão” da Avenida Chile. Lá estavam também os poetas da editora e revista Confraria do Vento, Victor Paes, Antonio Claudio Marcondes e Ronaldo Ferrito, que já estudaram no prédio do Fundão, na Ilha do Governador, além do anfitrião da noite, Carlos Alves, proprietário do Al Farabi, que pegou a fase de transição, entre a Av. Chile e o Fundão.

Muitos outros profissionais formados na Letras/UFRJ também estiveram por lá ouvindo poesia, como as professores Nilson Sant'anna, Inês Azevedo e Deise Dantas Lima.









POESIA DE A ATÉ Z


viver é delicado
argumento de samba
sentimento de fado

Lau Siqueira


 
Carne e trigo

As mãos matemáticas do pai
transmutam-se
casando carne e trigo.

O riso afaga o kibe,
envolve a kafta,
louva as beringelas.

Pacificado o domingo,
nas bocas ocupadas,
o grão de bico
silencia o sal das línguas.

O aroma de hortelã
amansa as arestas da mesa.

Canela adocicando a pimenta:
assim é o tempero sírio.

Depois o café
arenoso e forte.
A borra no fundo da xícara
desperta piadas com rima.
Sempre as mesmas –
sempre a mesma família.

Mas antes o doce
(e que doce):
nozes manteiga semolina

nós e o passado.
Logo ali na esquina.

Lais Chaffe


Tarefa

Escrever por dentro do tempo
a beirar as bordas
Preencher o instante
com a palavra quase perfeita
em busca da desordem
Ao final
deixar ao fundo de toda visão
sua mera quota:
poeta simples revolucionário
poeta simples
poeta

Rosane Carneiro


Rubras
              luas
trufas                    moças
              loucas                       doidas
luvas                       trochas                     soltas
              poucas                      louças
tuyas                       toscas
              bocas
nuas

Naíma Silva


a quadrilha de mata-cavalos

bentinho amava capitu que amava escobar
que amava iaiá garcia que amava brás cubas que amava carolina
que não amava ninguém.
bentinho foi pra o engenho novo, capitu para a suíça,
escobar morreu afogado, iaiá garcia acabou na tv,
brás cubas foi o primeiro defunto-autor
e carolina casou-se com joaquim maria machado de assis
que sempre quis entrar para a história.

Cesar Cardoso


O BANDONEON

quero um bandoneon octagenário
nada de baixo, guitarra, bateria
quero um bandoneon velho
com suas teclas desgastadas

um fole de fôlego
que respire por si próprio
ou morra de falta de ar
sincopado e sem partitura

um bandoneon
um bandoneon octagenário
pra depurar minhas dores tantas

um bandoneon
raivoso, plangente, apaixonado
ao neon da lua

fora da pauta
sem pejo nem ribalta
eu quero um bandoneon octagenário

Alexandre Brito


 
ESPECIAL SAMARAL

Com as massas tudo
Sem as massas nada
Ou amassa tudo
Ou não amassa nada

Samaral (Sérgio Antônio Goulart do Amaral) nasceu em Porto Alegre, em 16 de abril de 1948, e faleceu ao Rio de Janeiro em 17 de março de 1998. Chegou à cidade em 1969 e ingressou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação, formando-se em Jornalismo, em 1974. Foi editor de arte da revista Cadernos do Terceiro Mundo; produtor gráfico na Bolsa de Valores - RJ; diagramador e produtor na Funarte - RJ; secretário de redação e diagramador do jornal Letras & Artes. Colaborou com a Revista de Cultura Vozes e com o extinto “Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa”. Participou em mostras de poemas experimentais e arte-postal no Brasil e Exterior e tem trabalhos em  diversas publicações internacionais e nacionais.
Coeditor da revista O Feto (1972/73), Dia D (1974 - editadas por alunos da Escola de Comunicação da UFRJ) e da publicação/envelope Experiências (1975/76). Coorganizador da mostra de poesia Poemação ( Rio de Janeiro, 1974 - MAM/RJ), participou da Expoesia (PUC - Rio de Janeiro; PUC - Curitiba). Cofundador da Feira de Poesia Independente da Cinelândia e do Balkão Poético da Casa do Estudante Universitário (RJ). Fez parte, no Rio de Janeiro, do Movimento de Poesia Alternativa. Individualmente publicou Suor do corpo (1977); Poemas urbanos1 (1985); Sol vermelho (1981); Nicaráguas (1984); Poemas urbanos 2 (1984/1985) e cartazes-poemas. Deixou em fase de edição o livro de artista Círculos/Circle.
Em 1985, lança o jornal Urbana - poema fanzine, do qual foi editor e designer gráfico. Promoveu encontros de poetas do Rio de Janeiro, as concorridas “overdoses de poesia”, que acompanham os lançamentos da Urbana, que foi editada em forma de revista do nº 16 até o nº 22.

Carmem Sodré, irmã do poeta.